segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Finalmente (último texto da experiência em Curitiba - 2007/2008)

Infiltrações é uma proposta de jogar com a realidade, de propor possibilidades de percepção, de questionar nossas relações e de discutir arte contemporânea infiltrando-a em contextos onde ela não habita normalmente, e assim, relacioná-la concretamente e diretamente com as pessoas e as questões do nosso tempo e espaço.

A infiltração pode sim derrubar uma parede, pode levar a baixo um edifício, ou dar fim a uma estrutura de sustentação. Mas a que nos parece mais interessante agora, é aquela que vai aparecendo devagar, que faz marcas sutis e de duração longa, que talvez não derrube nada, mas ameaça, insinua e se espalha.

Uma revisão que contribui — queremos mesmo acreditar nisso — para uma humanidade mais ativa diante de si e de seus contextos. Pelo menos para alguém além de nós. Hakim Bey diz que “não importa se o terrorismo poético é dirigido a apenas uma ou várias pessoas, se é ‘assinado’ ou anônimo: se não mudar a vida de alguém (além da do artista), ele falhou.” Nós falamos o mesmo das nossas infiltrações.

Sentimos, finalmente, que não poderíamos negar a beleza que nos arrebatou nesta experiência de observação durante os meses de pesquisa. Observar o mundo, as pessoas, as coisas, as cores, o movimento, as relações e as composições que se tecem cotidianamente dentro dele é um exercício belo. Buscar intervenções que tornem visível o que já está, que destaquem uma coisa ou sublinhem outra, que nos façam perceber quão fantástica é a experiência do encontro, deste tempo e deste espaço. Nossas infiltrações caminham neste sentido, sutilmente e sensivelmente subversivo.

Conexão Curitiba (Brasil) – Montpellier (França) - (Texto 4)

Curitiba (Brasil) e Montpellier (França), os locais que foram base para experiências desse projeto, mostram que os procedimentos nômades se modificam consideravelmente em cada contexto.

Montpellier abarcou duas experiências diferentes, uma no verão e outra no inverno, em dois momentos distintos da mesma cidade. No verão, a praça aberta, com um café ao ar livre, foi o lugar por onde circularam as camisetas amarelas, os envelopes com instruções, a rede de acontecimentos e uma tensão quase de sociedade secreta. A tática deste lugar foi de receber três pessoas para quem as ações eram programadas, e gerar, a partir desta relação com elas, ações e acontecimentos que indiretamente alcançassem outras pessoas que já estavam no local.

Chegando o inverno, a ação foi cancelada pela meteorologia, sem as pessoas e o Sol a praça ficava sem a tensão necessária, sem o café ao ar livre, sem a linha para que a rede pudesse ser costurada.

Então, no inverno, a ação se transformou. Criaram-se novas táticas para a nossa estrutura, para os casacões e cachecóis. As ações eram menores, o frio deixou tudo mais sutil, as ficções eram mais privadas e as proposições mais alargadas no tempo. O verão levou com ele a ansiedade e a pressa. Ficou maior a autonomia e também os espaços vazios a serem preenchidos por quem topava a experiência. As frestas abertas naquele momento eram mais finas mas nem por isso menos eficientes e provocadoras. Eram diferentes e, por isso, desafiadoras.
É a observação ativa que faz com que o contexto te apresente possibilidades, com que ele te mostre o que pode ser feito dentro dos procedimentos já catalogados. É na prática da observação que as ações se tornam necessárias, que os procedimentos se tornam específicos, que a infiltração se cria de maneira eficiente.

Táticas de partilha e estratégias de infiltração (ou sobre um nomadismo específico) - (Texto 3)

Todas as experiências infiltrantes foram desenvolvidas com vistas a encontrar não um produto, ou uma obra, mas sim o que chamamos o tempo todo de procedimento artístico. Um procedimento que fosse ao mesmo tempo específico e nômade. A proposta sempre foi a de movimentar alterações amplamente conectadas com as peculiaridades de um contexto, mas fazer isso buscando retirar dessa experiência princípios e eixos articuladores passíveis de serem aplicados em outros contextos. Algo que possa ser a “máscara” de um estêncil que seja feito em diferentes lugares. Mas ao invés da tinta, nosso material é a ação.

Emprestamos aqui as expressões estratégia e tática, no pensamento de Michel de Certeau, para tentar explicar duas escolhas co-existentes. “A estratégia se postula como algo que possa ser circunscrito como próprio e ser a base de onde se podem gerir as relações em uma exterioridade distinta.” Essa pode ser uma tentativa de definir o que chamamos dentro do nosso processo de procedimentos base. O que levamos conosco para qualquer contexto, mas que lá, sofre modificações da tática. “A tática opera golpe por golpe, lance por lance. Ela aproveita as ocasiões e delas depende. O que ela ganha não se conserva.” Esta seria então, a especificidade, o “como”, a maneira em que os procedimentos base se desenvolvem em cada lugar diferente.

Nós começamos em um contexto. Habitamos, infiltramos, observamos, participamos, interferimos, modificamos e fomos modificados por ele. Foi nesta observação prática, que geramos e organizamos nossos primeiros desejos, nossas primeiras linhas de ataque, que depois iriam agir nos diversos locais de maneiras diferentes. As ações de cada lugar seriam ações irmãs, que nascem dos mesmos princípios, mas que se diferem por se relacionarem com ambientes distintos, por terem suas táticas desenvolvidas pelas especificidades de cada local.

A formatação de nossa experiência para a sala de exposição também representa uma transposição dos procedimentos adotados no café. Um exemplo disso é o vídeo que aparece como desdobramento das experiências com o feitiço.
No vídeo desenvolvemos especialmente os conceitos ações quase possíveis e pacto de visibilidade. Assim, o nomadismo do procedimento não está somente no deslocamento físico da experiência, mas também em possíveis deslocamentos midiáticos. O vídeo aponta nossas elaborações sobre como esmiuçar uma realidade, dissecá-la e colocar nela diversas lentes de aumento, produzindo outras alternativas de percepção, propondo uma renegociação da partilha do sensível.

Infiltrações sensíveis, sutis e subversivas (Texto 2)

Apostamos na performance como um regime singular de produção artística estruturada pela execução de um ato, supondo a centralidade de um corpo (ou de vários) que realizam, praticam este ato. Nas infiltrações que propomos um desejo era apontado como uma necessidade: o suporte para elas deveria estar no corpo em ação, gerando situações/eventos. Falamos em investir e investigar estados corporais, nos performers e no público, sem postular uma separação a priori entre eles, já que estamos ambos coabitando o mesmo espaço, negociando dentro dele.

Para construir estas situações/eventos passamos a investigar ações que se destacassem por sua radicalidade. Radicalidade no sentido daquilo que atinge ou está na raiz. E para encontrar raízes, nos dedicamos a um estudo minucioso de especificidades. Escolhemos um contexto: o cruzamento das Ruas Conselheiro Laurindo, Alfredo Bufren e Treze de maio, no centro da Cidade de Curitiba; e um ponto de observação: o Café Fingen, localizado no coração deste cruzamento. Esse Café tem características especiais, o lugar parece uma intersecção do espaço público com o espaço privado, as mesas ficam quase na calçada, mas são “protegidas” por portas e janelas de vidros espelhados, que geram recortes e enquadramentos múltiplos, e possibilitam a quem está dentro observar quem está fora, sem ser necessariamente “notado”.

Nosso exercício começou com um mapeamento, durante meses nos propusemos a observar este contexto, suas propriedades materiais e imateriais, sua estrutura visível (espacial, arquitetônica), e invisível (as regras e relações que se estabelecem ali) bem como os atores, pessoas/corpos que compõem e constroem esse lugar. Conhecer este espaço e reconhecer nele brechas e possibilidades de infiltrações. A partir deste exercício de observação, as relações intersubjetivas, as regras tácitas de ação, as expectativas do possível se tornaram materiais para a criação artística, tão concretos quanto os engarrafamentos e os sinais de trânsito.

Passamos a discutir e questionar o potencial transformador e radical de toda e qualquer ação observada na rua ou proposta por nós. Como aumentar este potencial? Inverter a estrutura da ação, deslocá-la, antecipá-la, repeti-la, combinar esta ação a outras? Como estas ações podem conter em si, ou no conjunto delas algum estranhamento? Como propor uma intervenção extra-ordinária a este contexto, capaz de gerar repercussões concretas? Como gerar uma crise neste cotidiano? Algo que tivesse reverberações maiores, mais amplas e mais profundas, e que não fosse apenas lembrado como um “episódio carnavalesco”... Como proporcionar alguma experiência que modificasse para sempre alguma coisa ou alguém, ou alguma coisa para alguém?

Habitando este contexto diariamente, passamos a listar e experimentar ações que tivessem sua raiz aqui, mas que variassem para outras dimensões do possível. Passamos a buscar por ações quase possíveis, e a colecionar gradações delas: as possíveis (reconhecidas dentro da expectativa ou senso comum do “como atuar” neste tempo/espaço), as quase possíveis (estranhas mas quase aceitáveis), as impossíveis (aquelas que não deixam dúvidas sobre a sua existência fictícia ou manipulada), as fantásticas (aquelas que deixam dúvidas sobre a sua real existência).

Sentar em uma mesa de um café, pedir um café pequeno e um pão de queijo, é possível. Sentar na mesma mesa de um café, pedir um café pequeno e um pão de queijo todos os dias, durante três meses, na mesma hora e com a mesma duração, se torna quase possível. Uma quebra de tempo, de espaço, de permanência, de cor, de forma. Um disco riscado, uma meia furada, um som chiado, um déjà vu.

Essas ações quase possíveis, só se tornam visíveis e experienciáveis, se o seu quase for compartilhado. A permanêcia no café nos mesmos horários, durante meses, é compartilhada com a garçonete que está lá todos os dias, com o jovem que passa diariamente para ir ao trabalho na mesma janela e vê as mesmas pessoas, mas não para quem simplesmente passa por lá uma única vez. É necessário um compartilhamento de parâmetros, um pacto de visibilidade. Instruções, guias, mapas, chaves de percepção, possibilidades de conexões, proposições de ficções em meio ao que chamamos de realidade.

“A ficção é antes de tudo uma distribuição de lugares” (Jacques Rancière). Esta palavra ficção torna-se importante aqui ao entendermos o significado dela como uma organização artificial dos signos e das imagens, ou como diz o próprio Rancière, das relações entre o que se vê e o que se diz, ou o que se faz e o que se pode fazer. O que fazemos é dar a ver alguns caminhos possíveis.

Precisávamos estabelecer um acordo com o público: vamos combinar que a partir de agora, o que estava invisível passa a estar visível, que cinco pessoas atravessarem a rua olhando para cima ao mesmo tempo pode não ser coincidência, que não é toda hora que acontece um beijo no meio da faixa de pedestres. Vamos combinar que a menina de vermelho derrubar um isqueiro verde pode ser uma ação especial, que a moça que está ao seu lado se chama Ligia, que a música que vem da rua pode estar tocando para você.

O pacto de visibilidade é então a organização de caminhos possíveis, é a nossa partilha deste sensível. É a oportunidade de dar ferramentas para que esta experiência seja coletiva. É a nossa distribuição de lugares para criação de uma ficção. Nele você é convidado a abrir um buraco no espaço- tempo e passear com suas suposições, invenções e subjetividades e se relacionar com este contexto de maneira diferente. Uma idéia de se deixar guiar por uma subjetividade individual, ao invés da comum organização coletiva do espaço público. Uma proposição para sintonizar por um momento uma rádio pirata, em uma sintonia que geralmente você não encontra no seu dial.

Não é algo proposto para ser assistido, mas sim experienciado, preenchido e partilhado. A relação entre espectador e performer, observador e observado, se quebra para dar espaço a uma relação dúbia e multilateral. Quem observa, o que se observa e como se observa, é ambíguo, aberto e mutável. A co-habitação de uma experiência de perceber e ficcionalizar o aqui e agora.

Partindo disso construímos roteiros. Um destes roteiros se transformou num feitiço que aplicamos com uma periodicidade inconstante no Café Fingen, para um público desavisado, que é “laçado” (ou não) pela experiência.

O que chamamos de feitiço (adj. feito + iço. 1. artificial; 2. postiço; 3. fictício. 4. encanto, fascinação) é uma situação/evento construída com ações infiltradas, gerando pequenas ficções que se confundem com a realidade, ou propõem uma outra forma de observá-la e apreendê-la.

Os feitiços são feitos sem aviso prévio. A relação que estabelecemos com este público, que não carrega a “expectativa do espectador”, é da ordem da partilha, de uma partilha do sensível que se dá com a proximidade de quem pratica ações comuns e habita o mesmo espaço. O público que esbarra na experiência está livre, emancipado para embarcar nela, acompanhá-la por alguns minutos, ou ignorá-la por completo, deixando o café para continuar seus afazeres cotidianos.

A cada feitiço o contexto desta experiência é transformado em cartão postal, e oferecido como algo que pode se deslocar, multiplicar. As “paisagens” são o quadro de luz da praça, o cartaz com o menu do almoço na padaria do outro lado da rua, a porta espelhada do café. Nada de mais, não fossem alguns estranhamentos (quase possíveis), como o fato de cada postal conter uma repetição (quase idêntica) da imagem dentro dela mesma, dentro dela mesma, dentro dela mesma... Os cartões postais estão associados a idéia de uma passagem por um lugar, uma visita, um estar presente. São “imagens com verso” nas quais é possível escrever, anotar, enviar pelo correio...

Pouco a pouco vimos nossos desejos subversivos, desobedientes, e quase terroristas passarem do campo do ataque para o do convite. Convite para uma experiência sensível, um evento capaz de gerar uma fissura neste espaço/tempo, interrompendo seu continuum, reconfigurando tanto o contexto quanto os corpos que agem dentro dele. Os estados corporais que atingimos são estados de percepção e consciência – para o que acontece todos os dias, para o que pode ser diferente, para pequenas coincidências, para alguma fantasia...

O ESPAÇO PÚBLICO COMO CONTEXTO DE UM PROCEDIMENTO QUE CLAMA POR ESPECIFICIDADE E NOMADISMO (Texto 1)

De onde vem e para onde vai a arte que produzo? Com que ambientes se articula? Seus procedimentos de criação e comunicação se tornam públicos? E seus produtos resultantes? Estas foram algumas das questões que nos moveram em direção a aprofundar nossa noção de arte pública neste projeto. Explicamos: temos, para todas as nossas obras, o entendimento de que a arte é a priori — ou pelo menos deveria ser — pública. No entanto este entendimento não nos foi suficiente desta vez, e lançando mão de todos os nossos desejos de produzir uma arte efetivamente relacional mergulhamos no caótico, complexo, violento e sedutor lugar onde partilhamos nossa existência com os nossos: fomos pras ruas, pras calçadas, pros cafés.

Desde o início tínhamos a certeza de que nossos interesses não poderiam ser desenvolvidos em outro contexto. O espaço público surge não como uma escolha arbitrária, mas sim como uma necessidade vital do projeto. Só nele a discussão que estamos propondo teria condições de ser desenvolvida. Além disso, não era para qualquer um que desejávamos falar. Estávamos — e findada esta fase do projeto estamos ainda mais — interessados que nossa arte tropece naquele que passa todos os dias pelo mesmo lugar, pega todo dia o mesmo ônibus, e provavelmente vive diversas vezes o mesmo dia.

Olhando pro espaço público como o da negociação coletiva, do “estar/conviver juntos”, saímos em busca de encontrar as formas mais intensas e desafiadoras de contribuir para uma convivência outra, para um outro pacto de partilha. Nicolas Bourriaud fala de um “estado de encontro imposto aos homens”. Passamos todos os meses de criação procurando brechas nesse encontro imposto em busca de torná-lo mais ativo e menos imposto, mais escolhido e negociado e menos massificado.

Imediatamente no momento que escolhemos fazer deste tipo de contexto nosso laboratório de criação e nosso foco de interesse, as armadilhas apareceram e se tornaram desafios. Pelas características que lhe são próprias, o espaço público tem a incrível habilidade de absorver ações, pessoas e estranhamentos. Muitas são as possíveis explicações para algo que rompe com alguma rotina: é uma manifestação, ou é um louco, ou propaganda política, ou alguém pedindo alguma coisa, ou então, ah! É mais um artista fazendo teatro na rua! Nenhuma dessas conclusões, fáceis e em certa medida limitadoras e já promotoras de pouca reflexão, nos interessava. Queríamos provocar outros tipos de percepção, daquelas das quais não se pode livrar assim tão rapidamente. Por outro lado não gostaríamos que nossas intervenções fossem completamente engolidas pelo caos, ficando fadadas a não serem percebidas ou somente percebidas por olhos iniciados. Uma difícil equação que acompanhou todo o processo.

Estamos interessados numa ação imediata, pontual, reconhecível e acessível a um público espontâneo. O corpo em ação resignificando um espaço-tempo real (real?), despertando a atenção para ele e oferecendo outras formas de observá-lo e de perceber o contexto a sua volta, mais críticas e criativas, produzindo recepções e reverberações imediatas e diretas da obra, transitando no limiar entre o estabelecido e o provisório, entre a institucionalização e o espaço público, entre a repetição e a diferença.

Poesia, radicalidade, complexidade, liberdade, diferença, fissura. Expressões que em nossas infiltrações convivem, nem sempre harmoniosamente, num espaço-tempo de ações quase possíveis, como comentaremos adiante.

Post de abertura

O projeto INFILTRAÇÕES (Estados de encontro e técnicas de infiltração – corpo em ação como suporte da arte) envolve pesquisas e experimentos práticos que buscam na performance e nos conceitos de site specific das artes visuais, um modo de operação e de ação para intervenções urbanas em contextos específicos, tendo como suporte o corpo e o movimento. A observação desse contexto e das relações intersubjetivas nele estabelecidas são material para a criação artística, a co-habitação do performer e do público num espaço-tempo real, as possibilidades de transformação de um e de outro, a efemeridade do evento quando o corpo em movimento é a mídia da arte, são algumas das principais questões a serem abordadas.

As intervenções são pontuais e devem acontecer em ruas, praças, terminais de ônibus ou outros locais públicos. Interessa-nos aqui a contingência de um corpo em ação dentro de um contexto gerando um evento que fissura, interrompe seu continuum, reconfigurando tanto o contexto quanto o corpo que age sobre ele, transformando performer e observador.

Tal projeto está sendo desenvolvido com recursos do edital Bolsa Produção em Artes Visuais, da Fundação Cultural de Curitiba. Atualmente, parte dele está sendo desenvolvida no Centro Coreográfico de Montpellier – FR, por Neto Machado (um dos idealizadores e pesquisadores do projeto).

Alguns de nossos pontos de partida

A investigação e as experiências artísticas propostas aqui problematizam a inserção da arte na vida cotidiana, as ações acontecem em meio a um público espontâneo que é incluído no evento, que faz parte de sua construção, que é diretamente atingido por ele. Isso aproxima a população em geral do fazer artístico contemporâneo, democratiza experiências criativas e oferece outras possibilidades de relação com o contexto e dentro do contexto. Por outro lado, levando em consideração a imediatidade das ações evocadas aqui, o corpo como suporte da arte, a efemeridade dos eventos provocados, entendemos que a pesquisa apresentada e as experimentações e intervenções urbanas a serem desenvolvidas não poderiam encontrar respaldo e subvenção junto à iniciativa privada, justamente por seu caráter efêmero e fugaz, nesse sentido acreditamos no enquadramento destas propostas em editais de bolsas de pesquisa como este, reconhecendo sua importância e necessidade.

Esse projeto é mais um espaço que se constrói para uma discussão que atualmente ocupa o lugar das artes visuais e da dança. Permitir que diferentes referenciais habitem um mesmo espaço possibilita diversificar o debate, aprofundar conceitos e ampliar o campo de atuação.

A partir de experiências realizadas em trabalhos artísticos anteriores, como a instalação Eu tenho autorização da policia para ficar pelado aqui, que Ricardo Marinelli realizou em ruas e praças de diferentes cidades ; Agora se mostra o que não está aqui, performance de Neto Machado em que o público « desenha » o contexto a partir de respostas a questões diretamente ligadas a um lugar e um habitus social; e do projeto Soit je craque soit c’est un spectacle, investigação e construção cênica realizada em um Centro de Controle Técnico de Veículos na cidade de Angers-FR, por Elisabete Finger, o Contexto como mote para a criação artística e como espaço-tempo para construção e realização da própria obra/evento tem nos interessado cada vez mais.

Reconhecendo nas pesquisas performáticas e sites specifics desenvolvidos no campo das artes visuais informações e modos de operação que caminham nesse sentido é que nos lançamos nessa proposta de investigação e experimentação prática, buscando formas de organizar intervenções/eventos tendo como suporte o corpo em movimento, em ação.

Alguns de nossos primeiros objetivos

A partir da observação de contextos específicos (espaços públicos como ruas, praças, terminais de ônibus) e da pesquisa e investigação de modos de operação historicamente construídos no campo das artes visuais (performance e site specific), pretendemos neste projeto desenvolver experimentações nesses contextos, propondo intervenções/eventos imediatos, pontuais, reconhecíveis e acessíveis a um publico espontâneo. O corpo em ação como mídia da arte, resignificando e agindo num espaço-tempo real, despertando a atenção para ele e oferecendo outras formas de observá-lo, mais criticas e criativas, criando formas de recepção e reverberação imediata e direta da obra de arte contemporânea.

Desta grande questão decorrem outras:
-Buscar na performance, e no campo das artes visuais possíveis configurações e modos de operação, implicando corpo e movimento em eventos instantâneos e imediatos;
-elaborar a partir desta investigação formas de atuação específicas para contextos específicos;
-experimentar essas formas de atuação através de intervenções urbanas;
-recolher traços em vídeo e imagens fotográficas destas experimentações, que sirvam de base para a elaboração de reflexões sobre esta pratica artística, como registro histórico e modo de compartilhar etapas e ações deste projeto;

Esperamos que este seja mais um espaço para ampliar nossas infiltrações.
Vamos conversar!